holy moments of a waking life

28 março 2006

A máquina


Hoje eu e a Lu fomos ver A máquina – o amor é o combustível, filme brasileiro em cartaz nos cinemas da capital. Filme estranho. No entanto, quem acompanha o blog sabe que, cinematograficamente pra mim, geralmente “estranho” é igual a “bom”. Nesse caso específico, muito bom. E a estranheza não começou com o filme – iniciou antes.

Já na bilheteria, a primeira surpresa: preço promocional do ingresso. Em março, as segundas-feiras no Cinesystem (Shopping Total) tinham meia-entrada. Pena que essa era a última do mês... de qualquer forma, seguem valendo as terças e quintas-feiras promocionais (nessa última, o vivente tem que dar um beijo na namorada na frente da moça da bilheteria pra valer a promoção... ou na mulher que estiver na fila e disposta a beijar um estranho pra pagar meia-entrada). Mas enfim, essa foi a primeira “coisa” estranha. A segunda foi o fato de ser uma sessão particular. Sim, éramos eu, a Lu e NINGUÉM MAIS. Cheguei a sair da sala e perguntar pro cara da porta se eu estava na sala e horário certos. Esse troço de estar sozinho no cinema só QUASE aconteceu uma vez comigo, e foi em Pelotas. Em Porto, num shopping, num dia de promoção, nunca eu imaginaria. Vai dizer que não é estranho? [:D]

O terceiro negócio estranho foi o próprio filme. Sei que muitos poderão assistir o filme e dizer que é uma mistura de “Auto da Compadecida” com “Lisbela e o prisioneiro”. E é verdade. Podem dizer que segue uma “formulazinha que deu certo”. E deu mesmo. “A Máquina” é a história de amor de Antônio e Karina, ele, o filho do tempo, e ela, moça sonhadora da cidade de Nordestina, que quer fugir pro Sul. A história é velha e batida, mas a obra toda é excepcional. As atuações de Paulo Autran e de Gustavo Falcão (por sinal, uma grata surpresa, pois nunca tinha visto esse cara), juntamente com participações coadjuvantes de Wagner Moura, Lázaro Ramos, Vladimir Brichta, Mariana Ximenes e outros tantos desconhecidos, mas que igualmente deixam sua contribuição marcante (vide os loucos do sanatório e a velhinha que faz fantasias), fazem da produção uma obra especial. O roteiro é igualmente formidável. Agora a "estranheza" fica mesmo por conta da cenografia, dos diálogos, da trilha sonora e de outros lances pitorescos. Os cenários, todos teatralizados e coloridos, abrigam muito bem a história, parecem – muitas vezes – feitos de papel maché. Os diálogos quase todos em forma de repente e cordel, de uma poesia ímpar em vários momentos, me lembraram muito algumas canções do Cordel do Fogo Encantado. A beleza das frases valoriza a língua portuguesa. Li agora há pouco uma crítica sobre o filme que aponta pra fidelidade ao texto original da obra homônima de Adriana Falcão (o que deve ser verdade, pois ela é roterista do filme também). A trilha sonora é original e inserida em algumas cenas como parte da história, mas no ponto certo para não considerarmos A máquina um musical. Ainda na trilha, destaque pra Zéu Britto e a também pra banda “The Sconhecidos”, que me pareceu criada especialmente para o filme (acabo de achar na web que é isso mesmo. A Banda 'criou vida' depois do filme). Até o merchandising, que sempre aparece nos filmes brasileiros, nesse é “estranho” e inteligentemente inserido. Não vou falar muito sobre ele pra não perder a graça, mas adianto que é da Pepsi Twist.

Pegue um filme com super orçamento, tipo a la Hollywood. Tire grande parte do dinheiro, fique com imagem e som sujos. Recrute ótimos atores – não necessariamente famosos, uma história razoável e um roteiro bem pensado. Pra finalizar, adicione 1% de inspiração e 99% de transpiração em todas as instâncias da equipe. Você tem A máquina. E A máquina emociona e diverte.

Daqui a pouco eu volto.

27 março 2006

Blog e (ou "é") literatura (?)

Não costumo postar aqui textos que não são meus, mas esse me chamou a atenção quando o vi no site do Terra. Tem a ver com alguns aspectos dos últimos posts, a questão da tecnologia e das mudanças sociais, etc. Mas então, a notícia do Terra tem o título "Blog de iraquiana concorre a prêmio literário" e fala do espaço virtual de uma iraquiana que concorre a um prêmio literário da BBC, diputando com outras obras - em papel. Segue abaixo a notícia na íntegra:

O blog "Baghdad Burning" ("Bagdá em Chamas"), elaborado por uma jovem iraquiana anônima, que descreve na Internet o impacto da guerra na vida cotidiana da população, foi selecionado nesta segunda-feira como finalista de um importante prêmio literário concedido pela BBC.
O júri do prêmio Samuel Johnson escolheu "Baghdad Burning" - escrito desde 2003 por uma jovem que utiliza o pseudônimo de Riverbend - como um dos 19 finalistas do prêmio de não ficção concedido pela BBC.

Esta é a primeira vez que um blog - um diário escrito na Internet - figura como candidato a um prêmio literário.

A quantia oferecida ao vencedor do prêmio - 30.000 libras (US$ 52 mil , 44.000 euros) - é a mais elevada para uma obra de não ficção.

"Sou mulher, iraquiana e tenho 24 anos. Sobrevivi à guerra. Isso é tudo o que devem saber. É a única coisa que importa hoje em dia", escreveu Riverbend ao lançar o seu blog (www.riverbendblog.blogspot.com).

Em um texto escrito por ela há alguns dias, por ocasião do terceiro aniversário da invasão por Estados Unidos e Grã-Bretanha do Iraque, a jovem narra o seu medo e raiva durante esses "três anos de ocupação e matanças" em Bagdá.

A jovem descreve em seu diário como a situação piora a cada dia em seu país e lança um apelo pela retirada das tropas americanas do Iraque.

"Estamos todos fartos", escreve a jovem, que lembra como muçulmanos xiitas e sunitas viviam antes em paz, e agora estas comunidades estão divididas por uma crescente violência sectária.

O diário online competirá com obras de autores renomados, como "Untold Stories", de Alan Bennet, The cold war, de John Lewis Gaddis, e "1599: a year in the life of William Shakespeare", de James Shapiro.

O prêmio será anunciado no próximo dia 14 de junho.

Vale a visita ao blog. Dei uma olhada rápida e destaco os "Oscar nominees" dela.

By the way, o finde foi ótimo. [:P] Daqui a pouco eu volto.

23 março 2006

Internet, assalto e rock and roll

Bom, mas ontem fui jogar squash, pela segunda vez nessa semana. Embora tenha sido muito bom de novo, não vou falar aqui do jogo, mas sim de algo que surgiu dele. Cheguei na academia uns 15 minutos antes das 21h, horário marcado pra partida. Decidi então ficar batendo bola, treinando umas paralelas que precisam melhorar. Pra não ficar chato, me pluguei no mp3, recheado com Arctic Monkeys e Foo Fighters. Tchê, coisa bem boa dar raquetadas com essa trilha sonora!!! Bah, foi legal e recomendo (Ae Nego, faz do teu iPod um item pro squash!).

Bueno, mas eram umas 21h05 quando chegou o Rodrigo, parceirão de jogo. Eu já tava com a primeira camiseta encharcada, assim fiquei conversando com ele enquanto ele aquecia. Disse que estava ouvindo Arctic Monkeys – uma grande indicação feita por ele, algo que até já fiz referência em outro texto aqui – e ele me contou a história dos caras. É daí que surge esse post.

Arctic Monkeys é uma banda de indie rock, formada por uma gurizada de uns 20 anos, saída de Sheffield, Inglaterra. Os caras têm recebido destaque pelo trabalho, com letras espirituosas e música “interessante". So what? Há várias bandas com esse histórico. No entanto, o que torna Arctic Monkeys - no mínimo - uma banda curiosa, é o fato de a banda ter quebrado o recorde britânico em vendas mais rápidas de um álbum de estréia: 363.735 cópias numa única semana. Sabem por quê? Porque a banda já tinha uma legião de fãs, construída por meio de divulgação na porta de shows, em demos largadas em algumas rádios e – principalmente – pela divulgação e liberação de suas músicas no seu site. Assim, quando um selo percebeu a força comercial dos caras e resolveu gravá-los oficialmente, não precisava nenhum esforço gigante de marketing pra lançar uma banda nova, pois a banda não era nova há tempos (apenas o era para o mercado fonográfico!)!!! Quem quiser saber mais sobre a banda, além do site, eles aparecem na Wikipedia e nessa página da Folha.

Hoje de manhã, ligo o PC e tava lá uma notícia no Terra: Jovem evita assalto com ajuda da Internet em SP. Resumidamente, a guria de 13 anos conseguiu avisar uma amiga (imagino eu, via MSN) que sua casa estava sendo invadida. Logo a casa estava cercada e o assalto evitado.

Tá, mas what the f*** tem Arctic Monkeys a ver com o assalto???

Ainda que pra muitos (principalmente pra quem acessa blogs) não seja mais novidade a mudança que a Internet e todas as coisas ligadas a ela impõem na gente, acho que vale esse meu "pseudo-espanto". Sempre defendi que essa mudança era inevitável, ainda que fosse necessário olhá-la com uma vista bem crítica e atenta, algo do tipo “conhece bem teu inimigo, já que é inevitável viver com ele” (em tempo: não acho que a Internet ou qualquer ferramenta tecnológica seja minha inimiga, mas sim quem porventura faça uso escuso delas). Mas ilustrando, como disse o Rodrigo ontem, HOJE não é preciso que uma gravadora faça uma “aposta” numa banda. Basta a gravadora observar a aceitação da banda em uma comunidade virtual, por exemplo. Ilustro o caso com uma banda local, a Balzacs. Vi um show deles outro dia no Zelig, e ontem tinha um post do Eurico sobre a banda, indicando o site dos caras, de onde pode-se tirar uns mp3s pra experimentar. Resultado: acessei o site, baixei as músicas, ontem já falei pro Rodrigo e pro Ricardinho, e sabe-se lá onde essa propaganda boca-boca vai parar. Mas sabemos onde começou – World Wide Web.

Enfim, queiramos ou não, esse troço de Internet está enraizado na nossa vida. Pode nos atrapalhar às vezes (e realmente atrapalha), mas também tem suas beneces. Sua filha pode passar muito tempo no MSN namorando ou falando com as amigas, mas ela ainda pode salvar sua vida. Além disso, você pode “cornetear”, por exemplo, o amigo que tem blog. Mas é bom lembrar que daqui um tempo ele e esse meio de interação online poderá determinar o que você está ouvindo. E gostando.

Nas fotos do post, Arctic Monkeys e Balzacs. Daqui a pouco eu volto.

21 março 2006

Finde ótimo, post péssimo


Mas então... sábado de manhã eu e a Lu fomos pra Pelotas, com o Baiano (my little pal Toto) e a Ane. Viagem tranqüilíssima, grande parceria ao som do Seu Jorge, que cantou o tempo todo as canções de Life Aquatic Studio Sessions (comentário em post anterior). O negão só ganhou uma folga depois de São Lourenço, quando deu lugar pro Nei Lisboa e seu Hi-Fi. Essa ida pra terrinha foi meio corrida e atropelada, mas necessária: o "véio" Sylvio tava de aniversário e tinha que ir lá dar um abraço e comer um churras, além de ver o restante da família também. A propósito, o dia do cumpleaños do pai foi ontem, dia 20. Parabéns pra ele, muita saúde e felicidade! (Tá certo que ele não acessa a Internet, mas vale a homenagem!). Mas voltando ao relato da correria, chegamos lá perto do meio-dia, com o tempo nublado e a temperatura amena. Isso foi muito bom, depois de ter passado quinta e sexta derretendo na Capital e ter a expectativa de 40 graus no finde em Pel. Mas chegamos e já encaramos um almoço. Que almoço! Sempre tem comida boa em casa, mas dessa vez os “véios” se puxaram... acho que é porque a Lu foi também... Hehehe... Falando nisso, fazia tempo que não comia tanta comida boa e em quantidade. Eu e a Lu deixamos a cidade no domingo pesando mais do que quando chegamos! [:D] Bueno, mas além do cardápio do almoço, foi muito legal o “evento”: estávamos nós, o pai, a mãe, meu irmão e o Pi, meu sobrinho. Fazia tempo que não ríamos tanto! Tava jóia. De tarde, eu, a Lu e o Pi fomos dar uma volta. MacDonald’s, sorvete na clássica Zum-Zum e um tour rápido pela cidade pra mostrar pra Lu. Entre uma volta e outra, ligações e SMS pra vários amigos pra combinar um encontro de noite. Vários telefonemas não atendidos e UMA mensagem respondida, dizendo que não ia ser possível o encontro. Ou seja, a teoria que lancei há uns tempos atrás sobre ir a Pelotas, infelizmente vem se confirmando. Buenas, resumindo, fomos eu e a Lu pra choperia do Cruz de Malta e ficamos aguardando o Toto, que apareceu logo e ainda trouxe um casal de primos. Vou falhar em lembrar dos nomes, mas eram muito gente boa os dois, acabamos dando boas risadas e batendo um grande papo, regado a Bohemias, com croquetes e tábua de frios (que, diga-se de passagem, resultaram em uma conta final ridícula de tão barata. E olhem que eu sou um pobre doutorando! Vantagens de Pelotas).

Domingo, acordamos tarde, já quase na hora do churras. Ô... o churras... tava bom também! Depois demos uma chegada no Laranjal, que estava vazio por causa do tempo nublado/chuvoso. Consegui falar com a Ju e combinamos de tomar um café na Márcia Aquino – como diz a Ane, programa tipicamente pelotense. Foi ótimo encontrar a Juliana, batemos um longo papo e ela e a Lu parecem ter se dado muito bem (na verdade, ainda não sei quem não simpatiza com a Lu!). Fiquei super feliz em ver a Ju radiante, super bem e feliz. Tu mereces, guria! Sorte para ti sempre! Bueno, depois de um café e uma torta, foi voltar pra casa, fazer as malas, trocar as últimas idéias com os velhos e pegar o bus das 20h rumo à Porto Alegre. A propósito, a volta pra Porto com a Lu foi divertidíssima. Antes de os dois apagarem de cansados e só acordarem quando o ônibus parou na rodô de POA, parecíamos duas crianças (pra não dizer dois retardados!!!) brincando com o iPod dela... que trocinho legal. [:D]

Ontem foi uma correria também. Notas legais: o Luke voltou de fato pra POA. Almoçamos juntos, eu, ele, Aline e Nego. A parceria está reeditada. Muito legal isso. A outra nota foi que surgiu um “squash surpresa” ontem. Joguei, perdi umas, ganhei outra e fiquei satisfeito com meu jogo. Nem sei se melhorei, mas fiquei satisfeito... Hehehe... Quarta tem mais.

Bom, tá aí o relato. Meio chato, não condiz com o que foi o finde, que embora corrido e atropelado, foi excelente. Mas prometo que me recupero. Daqui a pouco eu volto.

15 março 2006

Vi Crash


Hoje eu e a Lu fomos ver Crash. É, Negão, achei tempo pra mais um (vide comentário do Eurico no post anterior)... Há tempos queria assistir esse filme, principalmente porque ganhou o Oscar de melhor filme nesse ano. A Lu se deu conta que já tinha visto o filme nos EUA assim que começou a sessão, mas disse ela que curtiu mesmo assim... Hehehe... Bom, embora não me considere especialista em cinema mas sim apenas mais um curioso, me arrisco a dizer que sinto que a Academia tem salvação. É o segundo ano consecutivo que uma obra que não é uma super produção ganha essa estatueta (ano passado foi Million Dollar Baby – Menina de Ouro. Ah, coincidência ou não, o roteirista é o mesmo: Paul Haggis). Ainda que guarde algumas lembranças de Magnolia – a não-linearidade da história e a neve no final, que remete à chuva de sapos – e tenha alguns poucos pontos previsíveis, Crash é bom. Bem bom. Crash é sensível, sutil e ao mesmo tempo direto e expressivo. O roteiro te leva pela mão, como quando o pai da gente nos levava pra um passeio com destino incerto, mas com certeza divertido. A música é uma dica importante pra se deixar envolver pelas cenas.

Vendo Crash, aconteceu um troço que há tempos não ocorria comigo: chorei. Duas vezes. Chorei emocionado com a beleza do filme e com a cutucada em vários sentimentos humanos, como raiva, compaixão, amor fraterno, paterno e materno, (in)justiça, redenção. Palmas ao Paul Haggis, que conseguiu fazer isso com maestria. No entanto, Crash é mais do que duas cenas de emoção, e o que fica martelando o tempo todo na cabeça (pelo menos ficou na minha) é a questão de vivermos “no limite” e as implicações dessa realidade. Em algum momento da vida (vários, eu diria), nos encontramos em um turbilhão de fatos e emoções e precisamos tomar A DECISÃO em segundos. O que nos leva à decisão certa? O que determina quando pendemos para uma atitude justa ou injusta? Como damos vazão a nossas frustrações, dores e raiva? Como ser justo e correto todo o tempo? Isso é possível? E quando não é possível, o que fazer? Como lidar com o peso da culpa, seja nossa ou dos outros?

Em suma, me tocou o fato de o filme reproduzir uma das formas como vejo o mundo. Sempre é possível mudar, ou quase sempre, pra não soar definitivo. Entretanto, geralmente quando alguém diz isso, a coisa tem um tom positivo e otimista. Ainda que eu seja um otimista, vejo a frase por um prisma também realista. Ou seja, sempre é possível mudar – pra MELHOR ou PIOR. E me parece que o que determina isso é a educação que recebemos, que está enraizada. Não é necessariamente aquela recebida no colégio, mas aquela que contém os princípios, os valores, coisas que na maioria das vezes nos são dadas pela família e/ou na infância. São esses princípios e valores que vão determinar as decisões instantâneas sobre as quais falei antes.

Isso se une ao fato de o filme ter personagens que fazem parte da minha vida todo o tempo. Da vida de todos, eu diria. O cara que se acha o alvo da conspiração do mundo, o outro cheio de princípios nobres mas que paga pela aparência, a pessoa que usa o poder pra dar vazão às suas frustrações, a mulher constantemente irritada e inflexível, que quer que o mundo seja como ela acha correto, o cara que tenta ser justo sempre, enfim, pessoas que passam a toda hora na frente da minha casa e da sua, e que podem ter suas vidas entrelaçadas num piscar de olhos. Pra todas elas, no filme ou fora dele, é possível mudar, no amplo sentido do termo, dependendo unicamente da nossa capacidade de análise e decisão em cada momento. Não estou dizendo que isso é fácil, mas possível sim.

Outro aspecto interessante do filme aparece logo de saída, na narração do personagem de Don Cheadle, o policial Graham. É sobre a distância entre as pessoas em cidades grandes. Reproduzo o trecho original aqui, em inglês, mas não vou discuti-lo. Quem quiser tocar o barco, mi casa, su casa:

It's the sense of touch. In any real city, you walk, you know? You brush past people, people bump into you. In L.A., nobody touches you. We're always behind this metal and glass. I think we miss that touch so much, that we crash into each other, just so we can feel something.

Bueno, acho que tá claro que recomendo a obra. Ia ser legal ver algumas outras opiniões por aqui... acabo de lembrar que a Lencia postou algo no blog dela sobre o filme, mas não cheguei a ler, vou ver depois. Espero que não seja a mesma coisa que pus aqui. Nas imagens do post, o cartaz e um take do filme. Os dois mostram as cenas que o cara aqui chorou... [:P] Daqui a pouco eu volto.

10 março 2006

Vi e comento

Post rápido, só pra cumprir a promessa que fiz no anterior, a de falar sobre Capote ou Crash - disse que eu escolheria um dos dois pra ver ontem. Pois bem, vi Capote e vou comentá-lo. "De brinde", aproveito pra falar de outros dois que vi em DVD nessa semana.

Capote é legal. Filme lento e arrastado, características que poderiam ser depreciativas de saída, mas o ritmo me pareceu dar bem a noção do que foi para Truman Capote escrever In Cold Blood. Conhecia um pouco da história do escritor, mas quase nada sobre seu livro principal. Nem sabia que ele tinha escrito "Bonequinha de luxo", clássico do cinema nos anos 50 (?). Embora não tenha visto as performances dos demais candidatos ao Oscar de melhor ator, o trabalho de Phillip Seymour Hoffman impressiona. Ele está muito parecido com Truman e a mudança de voz é espantosa. Como eu já sabia que ele tinha mudado de voz, fiquei "perseguindo" cada fala pra pescar um deslize e não encontrei. Achei que o personagem pudesse ter ficado meio caricaturizado, mas não ficou. O cara mandou bem. Me parece que, se outros atores não mereciam perder o Oscar, ele pelo menos mereceu ganhar.

Bueno, mas como a indústria cinematográfica americana tem suas "bombas", aqui está uma da qual a gente deveria ter escapado - Envy (A Inveja Mata). Comédia com Ben Stiller e Jack Black, foi escolhida pra ser aquele programa de besteirol-based-laughs. Já vi alguns filmes com os dois atores e, se lhes faltava profundidade, nunca faltou diversão despreocupada (vide Starsky & Hutch, Zoolander, High Fidelity). Em Envy, não se ri nem de nervoso. Quem deve rir são os atores... da cara de quem assiste. Achei na Internet duas notícias sobre o filme, que se eu tivesse lido antes, teria me poupado a locação:

"A Columbia Pictures decidiu tirar A Inveja Mata de seu programa de lançamentos nos cinemas brasileiros (...)"

"A Inveja Mata teve suas filmagens encerradas 2 anos antes de seu lançamento nos Estados Unidos. Os produtores chegaram a cogitar a possibilidade de lançamento diretamente em vídeo, devido à má recepção que o filme teve nas exibições de teste. Foi apenas após o sucesso de Escola de Rock, estrelado por Jack Black, que ficou definido o lançamento do filme nos cinemas."

Quem deve estar envergonhada é Rachel Weisz (Oscar 2006 de melhor atriz coadjuvante por Jardineiro Fiel) por estar no elenco. Fazer o quê.

O último comentário é sobre De battre mon coeur s'est arrêté (De Tanto Bater, Meu Coração Parou). Era pra ter sido visto na quarta, mas a decepção com Envy foi grande e ele acabou ficando pra ontem, depois de Capote. Como todo filme francês que assisto, achei estranho. Eu tinha visto o trailer há tempos e fiquei curioso. HOJE me dei conta que gostei do filme! Isso geralmente acontece pra mim com os filmes franceses... levo um tempo pra digeri-los. O ritmo do filme é marcante, parece que o coração da gente vai parar mesmo, tamanha a velocidade que o diretor imprimiu na narrativa e no personagem principal. Como a maioria dos filmes europeus, não posso falar que é bom ou ruim - esse maniqueísmo cabe bem aos americanos. Eu gostei, mas entendo se alguém achá-lo péssimo!

Bom, resultado da maratona de filmes: 2 a 1 pros "bons". Vou comer, daqui a pouco eu volto.

08 março 2006

A visão do inferno que não era

Ontem quando estava saindo da UFRGS no final da tarde levei um susto: mar de gente, mar de carros. Pra mim, que fiquei em Porto a maior parte do tempo nesse verão, foi impressionante e notável a diferença de movimento – parece que são duas cidades distintas. Se até antes do Carnaval era possível deitar-se no meio da Osvaldo ou da Independência (plágio de uma opinião do Nego) e sobreviver, agora o negócio é diferente – carros, carros, mais carros, ônibus, motos e um bando de gente estressada dentro e fora dos veículos. Cruzamentos trancados, buzinaços, xingamentos, dedos levantados. Esse era o cenário às 18h30 ontem, na esquina da Paulo Gama com Osvaldo. Some-se a isso uma multidão de alunos que voltavam às aulas, “bichos” recém-troteados, vendedores no sinal, calor... pra quem saía de uma sala com ar condicionado e sem tumulto, essa era a visão do inferno. Ou melhor, seria.

Seria se não fosse o isolamento em que me encontrava, cercado por pensamentos bons, alimentados por ótima música. Aqui faço uma pausa para comentário musical...

No domingo, eu e my little pal Toto descobrimos um CD do Seu Jorge, Life Aquatic Studio Sessions, lá na Saraiva, por apenas R$ 76,80. Pra quem não sabe, Seu Jorge participa do filme Life Aquatic with Steve Zissou (muito bom, por sinal!) e fez versão acústica de cinco músicas do David Bowie para a trilha sonora. A questão é que o inglês gostou tanto do trabalho do brasileiro, que incentivou o cara a fazer mais versões de suas músicas. O resultado tá nesse CD, um conjunto de 14 músicas do Bowie, que o brazuca manteve a melodia e “reletrou”. Pra quem não tem escrúpulos sobre pirataria e/ou acha um absurdo pagar o preço pelo CD, eu achei num Torrent na Web. Destaco as versões de Ziggy Stardust e Lady Stardust... não consigo parar de ouvi-las.

Bueno, mas voltando à questão “a visão do inferno que não era”... Fiquei pensando no bem-estar que sentia, embora visse o desconforto e irritação do povo que me rodeava. Só pensava na música e nos pensamentos que ela embalava. Me via mais rápido do que os carros, trancados no mar de lata... e comecei a divagar sobre a força do estado de espírito. Até que ponto podemos controlar, ou nos “protegermos” da influência do meio? Será que é possível? O meio é a realidade em si ou ela é o fruto de como a percebemos? Não sei se isso é bom, pode funcionar como uma fuga talvez, mas a possibilidade de se desligar de problemas que não nos dizem respeito, de evitar que o stress do trãnsito, das outras pessoas, etc., te atinja me parece extremamente saudável e recomendável. Enfim, com o que eu tinha na cabeça, no coração e nos ouvidos, a visão do inferno era o paraíso.

Já estou preparado pra sair da UFRGS agora. Seu Jorge nas orelhas. Vou tentar ir no cinema hoje, ver Crash ou Capote. Se eu for mesmo, deixo o comentário aqui depois. Daqui a pouco eu volto.

06 março 2006

Em ritmo de Oscar...



Bueno, estava fazendo o post anterior e vendo o Oscar ao mesmo tempo, o que me levou a dar umas dicas que brotaram nesse finde. Sexta fui ver "Fora de rumo" (Derailed). Apesar de contar com Clive Owen e Vincent Cassel, o filme é uma bomba.



No domingo, assisti "Ponto Final" (Match Point). Escrito e dirigido por Woody Allen, com atores pouco conhecidos - tirando a Scarlett Johansson. Muito bom mesmo, inteligente e bem montado. Mesmo assim, acaba de perder o Oscar de melhor filme pra "Crash". Vou ter que ver pra conferir se é melhor mesmo.



Não tem a ver com o Oscar, mas também vale a dica: tô desde sexta ouvindo o disco de debut da banda Arctic Monkeys - Whatever People Say I Am, That's What I'm Not - por indicação do Rodrigo. Banda inglesa com raiz punk, lembra uma mistura de Red Hot Chili Peppers, The Strokes, Greenday e The Clash. Letras e linha de baixo excelentes, todo disco é bom, mas destaco as faixas I Bet You Look Good on the Dancefloor, Riot Van e Perhaps Vampires Is A Bit Strong But...

Era isso. Daqui a pouco eu volto.

Carnaval iPod sem samba


Bom não poderia faltar aqui um post sobre o Carnaval. Bah, foi muito legal mesmo, perfeito pra relaxar e recarregar as baterias. Nem a muvuca do Rosa e a contratura nas costas que me acompanhou por três dias (e ainda acompanha, que fique registrado) conseguiram estragar o bom que foi toda a viagem. Na quinta às 18h30 saímos de Porto Alegre, eu, Nina e Nego. Viagem tranqüila, duas paradas na estrada do mar pra comer e trocar de “piloto”. Perto de Torres, a Nina foi dormir no banco de trás e seguimos eu, o Nego e uma térmica de café. Muito papo, com direito a histórias de infância e filosofadas. Chegamos no Rosa por volta das 0h30, descarregamos o carro e fomos pra praia. Sim, ninguém tinha sono e a noite estava ótima. Demos uma caminhada, fizemos o primeiro amigo canino – o Hottu Doggu – e vimos as tatuíras fosforescentes. Sim, elas existem! Consideradas como alucinação na viagem à Punta Del Diablo, comprovamos que elas realmente existem (e sem o uso de nenhuma droga!). Depois de um tombo triplo na areia (novamente, sem nenhuma droga, o que tornou a queda mais patética e hilária), voltamos à casa e cama.

Na sexta, fomos à Garopaba fazer o rancho e esperar a chegada do JP e da Lu. Depois das compras, encontramos os dois na praia, o JP foi dormir e nós quatro ficamos na areia. Foi a única tarde “estranha”, pois chovia e abria sol a todo momento. Mesmo assim, eu e a Lu achamos uma pedra na ponta norte do Rosa e ficamos de papo. À noite, o JP pilotou os espetos e tivemos um grande churras. Vale destacar a visita do Charlie Brown, o segundo amigo canino, um labrador "paraguaio" que apareceu pra compartilhar as gorduras da picanha. O evento foi apenas um aquecimento pra o que estava por vir... pós-churras, resolvemos sair de casa e ir pra praia de novo. No caminho, o JP fez amizade com uma coruja – a Filó – e teve um holy moment quando o bicho deixou que ele a tocasse. Segue uma foto dela abaixo.
Na praia, enquanto o JP tomava seu banho de mar noturno, eu e a Lu vimos umas luzes muito suspeitas no céu. Não vou entrar em detalhes aqui pois o descrédito dos leitores será certo... como se não fosse suficiente, havia outras luzes sobre o morro do Rosa Sul: um halo vermelho-alaranjado que alternava as cores de tempos em tempos. Bom, mas vou parar por aqui com o momento twilight zone...
Sábado começou a rotina café-praia-casa. A foto acima recupera uma de nossas idas pra areia. O que me chamou a atenção foi o espírito “áudio-tecno-praia”: era impressionante o número de pessoas com iPods!!! Não tinha um lado para o qual olhássemos que não tivesse uma pessoa ouvindo música em um desses gadgets. Só pra ilustrar, no nosso grupo de cinco pessoas, três tinham os tais brinquedinhos e um (eu) tinha uma imitação barata e mais limitada. Entre um mergulho, livro ou papo, nos “iPodiávamos” e passávamos a tarde. Sinal dos tempos... a “bicho-grilice” do Rosa ficou hi-tech... [;D] Isso pra falar só dos iPods, porque câmeras digitais já são itens velhos... falando nisso, a foto abaixo mostra a paisagem que tínhamos que "aturar" no final das tardes. A Lu retratou a paisagem e eu retratei ambas [;D]!!!
Domingo a rotina café-praia-casa foi quebrada com a visita do Manuca, da namorada e a irmã dela, que apareceram pra jantar e bater papo. Eu só tinha conversado com ele uma vez, depois de uma festa em Pelotas, mas devido a um contratempo que não merece comentários, eu e a Lu ficamos “fazendo sala” enquanto os outros foram buscar COMIDA e cerveja. Acabamos conversando bastante e foi bem legal. O cara tá morando em Sampa e trabalhando como fotógrafo. Alguns trabalhos dele podem ser conferidos no blog Famous Frog.

Na segunda, voltamos ao café-praia-casa. Dia perfeito. Voltando pra casa, reencontramos Hottu Doggu com mais um amigo – o Snowball. Era o terceiro amigo canino. A “cara” do bicho é de um cachorro de uma raça que não lembro o nome. Pra completar, surgiu um sheep dog pra filar o rango (qual era o nome dele mesmo???), sem falar no gato siamês que adotou a casa como lar. Pelos bichos que surgiram lá, concluímos que não há vira-latas de rua no Rosa... o que há são cachorros de raça que resolveram levar uma vida alternativa, com muito surf e praia [;)]. Na terça, já em tom de despedida, mais um dia perfeito. No final da tarde o JP teve que voltar pra Porto. Os quatro que restaram decidiram ir à Garopaba de novo. Últimas compras e janta em uma Tratoria na avenida principal. Não lembro o nome, mas muito boa comida e excelente atendimento. Feito isso, era voltar pra casa, arrumar as malas e dormir pra viajar na quarta de manhã.

Era isso. O que é bom dura pouco. Mas um dia a gente volta lá. Afinal, já notaram quantos feriadões há em 2006? [;D] Daqui a pouco eu volto.

04 março 2006

Feliz Ano Novo!


Não, esse post não tá atrasado. Se fosse em qualquer outro país sim, mas aqui no Brasil o novo ano só começa depois do Carnaval. Vale registrar que o comentário não carrega nenhuma crítica, apenas uma constatação. Eu diria que é até melhor assim. Explico.

Em função da correria do dia-a-dia, parece que se o ano começasse realmente no dia 02 de janeiro teríamos pouco tempo pra refletir sobre o que foi bom ou ruim, sobre o que melhoramos (ou pioramos) e sobre possíveis metas a atingirmos no ano que começa. Sinto como se o período entre as festas de reveillon e o carnaval fosse o momento para relaxarmos a mente, refletirmos e analisarmos a vida com mais clareza e tempo. Pode parecer uma grande desculpa de um vagabundo, mas esse período me parece produtivo também.

2006 é também o ano decisivo do doutorado, no qual tem que acontecer muita coisa e VAI acontecer.

Olhando pra trás, de dezembro a fevereiro, não há o que reclamar. Foram meses de decisões, reencontros e confraternização com quem eu gosto. Pra quem não ia tirar férias pra ficar trabalhando, foi ótimo ter conseguido conciliar as duas coisas. Rolou Punta Del Diablo na passagem de ano e Rosa no Carnaval. Se os próximos meses mantiverem a média dos dois primeiros meses, 2006 vai ser bem legal.

Era isso. Daqui a pouco eu volto.