holy moments of a waking life

15 março 2006

Vi Crash


Hoje eu e a Lu fomos ver Crash. É, Negão, achei tempo pra mais um (vide comentário do Eurico no post anterior)... Há tempos queria assistir esse filme, principalmente porque ganhou o Oscar de melhor filme nesse ano. A Lu se deu conta que já tinha visto o filme nos EUA assim que começou a sessão, mas disse ela que curtiu mesmo assim... Hehehe... Bom, embora não me considere especialista em cinema mas sim apenas mais um curioso, me arrisco a dizer que sinto que a Academia tem salvação. É o segundo ano consecutivo que uma obra que não é uma super produção ganha essa estatueta (ano passado foi Million Dollar Baby – Menina de Ouro. Ah, coincidência ou não, o roteirista é o mesmo: Paul Haggis). Ainda que guarde algumas lembranças de Magnolia – a não-linearidade da história e a neve no final, que remete à chuva de sapos – e tenha alguns poucos pontos previsíveis, Crash é bom. Bem bom. Crash é sensível, sutil e ao mesmo tempo direto e expressivo. O roteiro te leva pela mão, como quando o pai da gente nos levava pra um passeio com destino incerto, mas com certeza divertido. A música é uma dica importante pra se deixar envolver pelas cenas.

Vendo Crash, aconteceu um troço que há tempos não ocorria comigo: chorei. Duas vezes. Chorei emocionado com a beleza do filme e com a cutucada em vários sentimentos humanos, como raiva, compaixão, amor fraterno, paterno e materno, (in)justiça, redenção. Palmas ao Paul Haggis, que conseguiu fazer isso com maestria. No entanto, Crash é mais do que duas cenas de emoção, e o que fica martelando o tempo todo na cabeça (pelo menos ficou na minha) é a questão de vivermos “no limite” e as implicações dessa realidade. Em algum momento da vida (vários, eu diria), nos encontramos em um turbilhão de fatos e emoções e precisamos tomar A DECISÃO em segundos. O que nos leva à decisão certa? O que determina quando pendemos para uma atitude justa ou injusta? Como damos vazão a nossas frustrações, dores e raiva? Como ser justo e correto todo o tempo? Isso é possível? E quando não é possível, o que fazer? Como lidar com o peso da culpa, seja nossa ou dos outros?

Em suma, me tocou o fato de o filme reproduzir uma das formas como vejo o mundo. Sempre é possível mudar, ou quase sempre, pra não soar definitivo. Entretanto, geralmente quando alguém diz isso, a coisa tem um tom positivo e otimista. Ainda que eu seja um otimista, vejo a frase por um prisma também realista. Ou seja, sempre é possível mudar – pra MELHOR ou PIOR. E me parece que o que determina isso é a educação que recebemos, que está enraizada. Não é necessariamente aquela recebida no colégio, mas aquela que contém os princípios, os valores, coisas que na maioria das vezes nos são dadas pela família e/ou na infância. São esses princípios e valores que vão determinar as decisões instantâneas sobre as quais falei antes.

Isso se une ao fato de o filme ter personagens que fazem parte da minha vida todo o tempo. Da vida de todos, eu diria. O cara que se acha o alvo da conspiração do mundo, o outro cheio de princípios nobres mas que paga pela aparência, a pessoa que usa o poder pra dar vazão às suas frustrações, a mulher constantemente irritada e inflexível, que quer que o mundo seja como ela acha correto, o cara que tenta ser justo sempre, enfim, pessoas que passam a toda hora na frente da minha casa e da sua, e que podem ter suas vidas entrelaçadas num piscar de olhos. Pra todas elas, no filme ou fora dele, é possível mudar, no amplo sentido do termo, dependendo unicamente da nossa capacidade de análise e decisão em cada momento. Não estou dizendo que isso é fácil, mas possível sim.

Outro aspecto interessante do filme aparece logo de saída, na narração do personagem de Don Cheadle, o policial Graham. É sobre a distância entre as pessoas em cidades grandes. Reproduzo o trecho original aqui, em inglês, mas não vou discuti-lo. Quem quiser tocar o barco, mi casa, su casa:

It's the sense of touch. In any real city, you walk, you know? You brush past people, people bump into you. In L.A., nobody touches you. We're always behind this metal and glass. I think we miss that touch so much, that we crash into each other, just so we can feel something.

Bueno, acho que tá claro que recomendo a obra. Ia ser legal ver algumas outras opiniões por aqui... acabo de lembrar que a Lencia postou algo no blog dela sobre o filme, mas não cheguei a ler, vou ver depois. Espero que não seja a mesma coisa que pus aqui. Nas imagens do post, o cartaz e um take do filme. Os dois mostram as cenas que o cara aqui chorou... [:P] Daqui a pouco eu volto.

14 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Rubens Edwald Filho que se cuide!!! Tem gente querendo tirar o "posto" dele...
:-p

Beijo!

março 15, 2006 9:25 AM  
Blogger Rafael said...

Hahaha!!! Tá bem, meNina!!!
:-P
Beijo pra ti também!

março 15, 2006 11:47 AM  
Anonymous Anônimo said...

Chorar, faz bem! Nos livra um pouco da frieza porca de nossas atitudes e das atitudes dos outros tb! Chorando nos tornamos mais livres e perdemos um pouco a culpa! Grande Abraço amigo! Fico Feliz de conseguires (tentar) te aliviar!

março 15, 2006 12:50 PM  
Blogger Rafael said...

Pois é... mas como falei no post, o choro em questão não teve a ver com culpa, tristeza ou algum sentimento de identificação MEU. Nem teria razão na minha vida hoje pra isso. Como digo no post, o grande mérito do filme na minha perspectiva foi o fato de ter me "tocado" pela beleza e expressividade das imagens, da história, das cenas... se ainda não viste o filme, quando assistires verás ao que me refiro, especialmente nas duas cenas que destaquei.

Bueno, mas valeu pelo comentário, quem quer que seja o autor! Podia ter se identificado, né!!!

Abração!!!

março 15, 2006 1:17 PM  
Anonymous Anônimo said...

eita!!!

vc escreve hein!

massa!

abraço!

março 16, 2006 9:07 AM  
Anonymous Anônimo said...

Dr. Rafaieldo, o "anônimo" é um dos males dos blogs com os quais temos que lidar. Faz parte do jogo. Volta e meia a situação não é a mais favorável para a presença de opiniões não identificadas. Já escrevi alguns palavrões no meu blog por causa de situações como essa. Sei lá, talvez os anônimos tenham razões pra não se identificar, talvez o façam por serem tímidos. Mas o importante é que oi conteúdo do comentário seja válido (eu acho). Abraço.

março 16, 2006 10:57 AM  
Blogger Rafael said...

Ae Manuca!

Pois é, às vezes baixa o "Chico Xavier"!

Valeu pela visita!

Abração!

março 16, 2006 11:10 AM  
Blogger Rafael said...

Fala Nego!!!

É... quando não há xingamentos ou afins, a questão do anonimato só é ruim porque a resposta que geralmente gosto de dar, a interação, o bate-papo - que pra mim é um dos propósitos desse troço de blog - tende a ficar impessoal. A gente perde o "olho no olho" pra responder... Mas enfim, c'est la vie, como diria a Aline (que por sinal, anda por aqui às vezes e não posta nada... hahaha!)!!!

Abração, brou! Até breve!!!

março 16, 2006 11:14 AM  
Anonymous Anônimo said...

Olha eu aqui!!!!!

março 16, 2006 9:52 PM  
Blogger Rafael said...

Ae bitchou!!! Valeu!!! Bjs!!!

março 16, 2006 11:41 PM  
Anonymous Anônimo said...

Uau!!!
Novo layout no blog!!! Show!!!
Agora só falta um post novo!
:p

Beijo!!!

março 17, 2006 1:27 PM  
Blogger Rafael said...

Gracias!!!

Tive que mudar por questões técnicas, mas gostei do resultado também.

Vamos ver o que vem por aí nos próximos posts!!!

Bjos!!!

março 17, 2006 2:04 PM  
Blogger Roberta Martins said...

Em alguma Zero Hora de fevereiro ou março eu li sobre este e filme e lá falava sobre chuva de vaga-lumes e não de neve. Quando fui ver o filme, lembrei disto e achei que parecia neve, mas o chão não ficava branco, então concordei que poderiam ser vaga-lumes, lembrando os sapos de Magnólia, só que mais sutil. Concordo com todo o teu comentário, mas achei mais explosivo, os personagens estavam tão tensos que pareciam que iam explodir a qualquer momento. E quando as cutucadas fazem os personagens pensarem nas suas vidas, aparece aquela chuva, sutil. Também fui cutucada pelos sentimentos humanos e sobre o que é ser justo e julgar se os outros são justos. Afinal o cara que mais julgava, acabou sendo muito injusto. E todas as pessoas que sofriam algum mau causado por outros e se sentiram injustiçados, em outros momentos também foram injustos com outros e se culparam, ou não, mas esses outros injustiçados fizeram a mesma coisa com outros. Ufa, essa é a tensão que falo. Como ser justo e correto todo o tempo?

Quanto aos vaga-lumes, falei com outras pessoas e nenhuma delas leu essa Zero Hora ou acredita que seja outra coisa além de neve. E agora? Se alguém tiver algo a dizer comente. Este é o tipo de filme que me da vontade de falar e ouvir sobre.

março 23, 2006 11:37 AM  
Blogger Rafael said...

Bah, Robertinha! Que comentário! Dá uma outra visão do filme e isso é excelente.

Segue a polêmica "neve vs. vaga-lumes"... se alguém tiver algo mais a dizer, please...

Valeu, Robertinha! Apareça!

março 23, 2006 11:59 AM  

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