Cuba: comidas & tragos
Bom, um negócio legal em Cuba é a comida. Pra um lugar que tem a economia baseada no turismo (seguido do tabaco e da cana de açúcar), os preços são bem razoáveis. Pra ter uma idéia, o kilo do camarão e da lagosta pode ser comprado a US$ 1. Além da comida e da bebida (especialmente os mojitos!) serem ótimas, os lugares têm um clima jóia. Nessas aventuras gastronômicas sempre tive a companhia do meu ex-orientador e parceiro de viagem, o Leffa.
Na primeira noite, queria provar a comida típica de Cuba, mas sem ter que enfrentar showzinhos de dança e afins (quando perguntei pras pessoas do hotel sobre um restaurante, vários tentaram me empurrar o Tropicana, um lugar que tem comida e um show de dança a la Broadway. Por sorte, já sabia como era e me escapei dessa). Encontrei no saguão do hotel o J.J. (o "rota-rota" ou, como ele preferia, "jey-jey"!). O cara acabou nos levando pra uma casa que tinha um restaurante nos fundos. O lugar me pareceu meio "escondido" e isso talvez fosse proposital, em função do controle do governo. O começo foi com os dois pés direitos. Mandamos uns camarões e um lombo de porco, mais mojitos, cerveja Bucanero (a melhor de Cuba. Tem a Cristal também, mas essa é péssima) e na entrada o cara nos ofereceu um troço que eu não lembro o nome, mas, segundo ele, é da família da batata (e não é aipim). Depois disso, foi voltar pro hotel e dormir cedo, pois o congresso começava no outro dia.
Os dois primeiros dias foi de concentração total no congresso e, na noite posterior à minha apresentação, fomos comemorar no Gato Tuerto. Esse restaurante era uma das dicas que a Luzinha me passou antes da viagem na matéria de uma TPM. O lugar (foto - para ver melhor, clique sobre as imagens) é muito legal, tem um astral ótimo e tem um ar mais requintado, comparado com a maioria dos outros restaurantes de Havana. Parece que na parte de baixo rolam uns shows, mas nesse dia não tinha nada. Ele fica a uma quadra do Malecón e a mais uma do Hotel Nacional (outro lugar que é visita obrigatória). Eles têm um prato premiado lá, a "Olla del Diablo", que é um tipo de caldeirada de frutos do mar. Excelente, principalmente acompanhado de mais mojitos e de um cara tocando Beatles ao piano. Depois da cena, uma passada pra admirar os lustres e jardins do Hotel Nacional.
No outro dia, almoçamos em Havana Vieja, parte da cidade construída na época do domínio espanhol. Escolhemos o La Paella e o prato típico espanhol com lagosta. Igualmente excelente. Além disso, o restaurante fica dentro do Hostel Valencia (Oficios nº 53 esq. Obrapia) numa espécie de átrio (acho que é assim que se chamam aquelas áreas abertas dentro de uma construção), com muitas plantas e referências à Espanha. Ah, é claro que tomamos mojitos lá também.
Falando em mojitos, ir à Havana e não tomar a bebida no bar onde ela foi criada em 1942 é como ir ao Rio e não conhecer o Cristo Redentor. Então, rumamos a La Bodeguita del Medio (esquerda), próxima à Plaza de la Catedral. O lugar me lembrou o Cruz de Malta da rua XV (quem conhece Pelotas, vai entender), antes da reforma, e é um lugar simples e freqüentado por intelectuais, como Allende, e anônimos que, além de tomar seus tragos, deixaram frases e assinaturas nas paredes do lugar. Esse boteco também teve como cliente assíduo Ernest Hemingway. Aliás, como dizia o escritor: "My mojito in La Bodeguita; my daikiri in La Floridita". E esse foi outro lugar por onde passamos (centro) no dia seguinte e tomamos o famoso daiquirí (sobre o balcão na foto à direita). É um espaço mais cool, que nos leva direto aos anos 50, com ótima música ao vivo. A comida e a bebida lá são mais caros, por isso, tomamos o daiquirí (que é bom, mas prefiro mojitos) e fomos almoçar em outro lugar.
Procuramos então um lugar simples em Havana Vieja e encontramos um boteco bem humilde. Pra variar, mojitos no começo. Depois pedimos um prato com camarões, salada e arroz com feijão (que, diga-se de passagem, é ótimo), ouvindo um grupo de cubanos na formação básica: maracas, violão, contrabaixo acústico, trompete e voz. Não lembro o nome do restaurante, mas é numa das esquinas da calle Obispo.
No último dia, muita chuva e frio. Acabamos almoçando no Hotel Nacional, no café que há no subsolo. Nada de espetacular na comida. Ou melhor, a comida e o serviço são ótimos, mas o que salta aos olhos é o sentimento de volta no tempo, imaginando como era a vida nos tempos áureos antes da Revolução. No Nacional, funcionava um grande cassino, que fervilhava de turistas. Era comum saírem aviões de Miami, levando americanos pra jogar lá e voltar pros EUA após a noitada (o filme "Cidade Perdida" mostra um pouco desse tempo). Pela nostalgia, vale a visita com calma.
Bueno, acho que a parte gastronômica da viagem tá bem ilustrada. Ainda tenho que falar de mais umas coisas, mas fica pra outra hora. Daqui a pouco eu volto.