holy moments of a waking life

25 março 2007

Enquanto isso, no amistoso da Seleção...

Eu gosto de futebol. Gosto de (tentar) jogar, de torcer e de assistir. Gosto de conversar sobre futebol, tentando entender e aprender - sem nenhuma pretensão maior - sobre o jogo.

Só que quando tem jogo da Seleção, uma exclusividade da Globo, eu encaro um problema chamado "Galvão Bueno".

Eu não gosto do Galvão Bueno. Não é aquele ódio de querer que ele morra, mas chega perto disso, só pela esperança de ter, um dia, o prazer de ver e ouvir um jogo narrado por QUALQUER UM, exceto esse mala. Sei que tem muitos narradores ruins (na verdade, não lembro de nenhum "ótimo"). Os comentaristas, então, nem se fala. Acho que o Falcão é muito competente, junto com o Mauro Beting, agora, Casagrande, José Roberto Wright, Neto e Müller (virge!) são uns ignorantes. Não deveria haver um microfone ligado perto deles. Mas esses são "apenas" ignorantes.

O Galvão, não.

O Galvão é arrogante. Ele sempre dá a última palavra no comentário dos outros. Ele é um narrador, tá ali pra narrar. Os comentários são para os comentaristas. O Galvão (finge que) não vê essa obviedade.

O Galvão é chato. A cada jogo, ele "escolhe" um fato e o repete com toda a força que o verbo "repetir" pode ter. E o faz durante a partida, no intervalo e ao final. Ele deve ligar pra mãe dele e contar a sua descoberta. Mais, ele deve começar no dia anterior, contando pro produtor, pro "Zé-da-Kombi-da-Globo", pro Roberto Marinho (ops, pra esse não mais). Na última partida, eu contei 11 vezes o fato de que "foi nesse estádio que Garrincha e Pelé jogaram juntos pela primeira vez e não saíram mais". Inclusive ele "mandou" o Tino Marcos perguntar para um jogador se ele sabia dessa efeméride (sempre quis usar essa palavra, espero que esteja certa!).

O Galvão é irritante, principalmente quando ele tenta (e consegue) fazer "colar" algum bordão, alguma marca registrada sua. "Agora é teste pra cardíaco, amigo!", "ganhar é bom, mas ganhar da Argentina é muito melhor", "pra dentro dele, <nome do jogador>!" são alguns exemplos. Até aí, tudo bem, pois todos os narradores fazem isso (vide o "olho no lanceeeeee!" e "pelo amor dos meus filhinhos!" do lendário Silvio Luiz). O Galvão vai além.

Desde que os jogadores com nome iniciando em "R" começaram a estrelar na Seleção, o Galvão desandou a enrolar e desenrolar os "érres". Era "RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRivaldo" pra cá, "RRRRRRRRRRRRRRRRRRRonaldo" e "RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRonaldinho" pra lá, até um "RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRoberto Caaaaaaaaaaaaaarlos" escapava de vez em quando.

Só que em Chile vs. Brasil do sábado, 24/03, surge a superação:
Pô, Galvão, "RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRuan"?!?!?!?!?!

Essa foi demais. Daqui a pouco eu volto.

22 março 2007

Buena Vista Social Club

Bom, demorou mas agora vai o último post sobre Cuba. Essas semanas têm sido de trabalho pesado e às vezes falta disposição pra escrever aqui devido ao cansaço. Mas em virtude de algumas manifestações sobre falta de posts e também porque tem gente nova andando por aqui (valeu Flávio e Ernesto!), resolvi fazer o relato que eu estava guardando sobre a viagem à Cuba.
Eu gosto de música cubana. Não conheço muitos artistas, só tenho um CD (ainda por cima, pirata!), mas quando escuto aquela levada de contrabaixo, trompete, maracas e violão, me emociono, fico empolgado mesmo. Lembro quando eu era criança e ouvia o pai cantando na churrasqueira junto com alguns LPs de artistas da ilha, mas não tinha desenvolvido ainda meu gosto musical, achava até meio chato aquilo. Porém, há uns dois ou três anos atrás, vi uma parte do documentário Buena Vista Social Club em uma TV qualquer. Foi só o finalzinho, mas achei legal, lamentando por não ter visto todo o programa. Por total coincidência, algum tempo depois, meu irmão gravou um VHS pro meu pai e, num daqueles raros dias que não tinha nada pra fazer, assisti. E babei.
Fui atrás do único CD dos caras (por sinal, é aquele que eu disse que tinha), pesquisei sobre o documentário, enfim, tentei descobrir o máximo que podia sobre o projeto, que é emocionante, diga-se de passagem. Não vou contar toda a história aqui, mas vou recomendar que aluguem/comprem o CD e o DVD (aqui ou aqui). O CD, produzido por Ry Cooder, ganhou Grammy e o filme foi super premiado e tem a direção do alemão Wim Wenders.
Bueno, mas lá estava eu em Havana no domingo, voltando de táxi com o J.J (vide posts anteriores). Chegando no hotel, o simpático motorista se ofereceu para fazer o transporte enquanto estivesse em Havana e deu o número do seu telefone nas costas de um flyerzinho. Quando cheguei no quarto, olhei na frente do papel e não acreditei - show do Buena Vista Social Club em Havana na quarta-feira.
Tinha que ir, pois outra chance eu provavelmente não teria, pois ou não iria à Havana tão cedo, ou eles não viriam ao Brasil ou já não haveria mais Buena Vista. Do grupo de músicos da velha guarda que participaram do CD e do DVD, eu já sabia que dois haviam morrido - Compay Segundo e Ibrahim Ferrer. Apesar da falta dos dois, foi um espetáculo fantástico, por vários motivos.

Motivo 01: dentre os remanescentes, Aguaje Ramos (trombone), Guajiro Mirabal (trompete), Orlando Cachaito López (contrabaixo), Manuel Galbán (percussão), Carlos González (guitarra) e Omara Portuondo (voz) mostraram o que é tocar e cantar com paixão, força e talento.

Motivo 02: o show agregou muitos outros músicos cubanos de igual talento, os quais não conhecia - Ela Calvo, Orestes Macías, Mundito González e Rolo Martínez (foto).
Motivo 03: o local da apresentação foi a Plaza Vieja, cercada de prédios antigos restaurados.
Motivo 04: estavam incluídas comida e bebida da melhor qualidade e em grande quantidade. Além disso, a parceria do Leffa e de um casal de canadenses - Chris e Loraine - foi excelente.

Motivo 05: fiquei na mesa mais próxima do palco e por isso tínhamos a companhia constante dos cantores ao nosso lado e dos músicos barbarizando à nossa frente. Como resultado na proximidade, acabei dançando com Omara Portuondo (isso mesmo, com toda essa minha habilidade dançante!!! Hehehe).
Bom, saí do longo show de alma lavada e na certeza de ter visto um dos melhores shows da minha vida, certamente inesquecível. Não havia a produção que existe em shows como os de U2, Pearl Jam ou Ben Harper (que estão na minha Top List), mas esse show fica na minha memória pra sempre, sem dever nada pros outros. Daqui a pouco eu volto.