holy moments of a waking life

28 março 2006

A máquina


Hoje eu e a Lu fomos ver A máquina – o amor é o combustível, filme brasileiro em cartaz nos cinemas da capital. Filme estranho. No entanto, quem acompanha o blog sabe que, cinematograficamente pra mim, geralmente “estranho” é igual a “bom”. Nesse caso específico, muito bom. E a estranheza não começou com o filme – iniciou antes.

Já na bilheteria, a primeira surpresa: preço promocional do ingresso. Em março, as segundas-feiras no Cinesystem (Shopping Total) tinham meia-entrada. Pena que essa era a última do mês... de qualquer forma, seguem valendo as terças e quintas-feiras promocionais (nessa última, o vivente tem que dar um beijo na namorada na frente da moça da bilheteria pra valer a promoção... ou na mulher que estiver na fila e disposta a beijar um estranho pra pagar meia-entrada). Mas enfim, essa foi a primeira “coisa” estranha. A segunda foi o fato de ser uma sessão particular. Sim, éramos eu, a Lu e NINGUÉM MAIS. Cheguei a sair da sala e perguntar pro cara da porta se eu estava na sala e horário certos. Esse troço de estar sozinho no cinema só QUASE aconteceu uma vez comigo, e foi em Pelotas. Em Porto, num shopping, num dia de promoção, nunca eu imaginaria. Vai dizer que não é estranho? [:D]

O terceiro negócio estranho foi o próprio filme. Sei que muitos poderão assistir o filme e dizer que é uma mistura de “Auto da Compadecida” com “Lisbela e o prisioneiro”. E é verdade. Podem dizer que segue uma “formulazinha que deu certo”. E deu mesmo. “A Máquina” é a história de amor de Antônio e Karina, ele, o filho do tempo, e ela, moça sonhadora da cidade de Nordestina, que quer fugir pro Sul. A história é velha e batida, mas a obra toda é excepcional. As atuações de Paulo Autran e de Gustavo Falcão (por sinal, uma grata surpresa, pois nunca tinha visto esse cara), juntamente com participações coadjuvantes de Wagner Moura, Lázaro Ramos, Vladimir Brichta, Mariana Ximenes e outros tantos desconhecidos, mas que igualmente deixam sua contribuição marcante (vide os loucos do sanatório e a velhinha que faz fantasias), fazem da produção uma obra especial. O roteiro é igualmente formidável. Agora a "estranheza" fica mesmo por conta da cenografia, dos diálogos, da trilha sonora e de outros lances pitorescos. Os cenários, todos teatralizados e coloridos, abrigam muito bem a história, parecem – muitas vezes – feitos de papel maché. Os diálogos quase todos em forma de repente e cordel, de uma poesia ímpar em vários momentos, me lembraram muito algumas canções do Cordel do Fogo Encantado. A beleza das frases valoriza a língua portuguesa. Li agora há pouco uma crítica sobre o filme que aponta pra fidelidade ao texto original da obra homônima de Adriana Falcão (o que deve ser verdade, pois ela é roterista do filme também). A trilha sonora é original e inserida em algumas cenas como parte da história, mas no ponto certo para não considerarmos A máquina um musical. Ainda na trilha, destaque pra Zéu Britto e a também pra banda “The Sconhecidos”, que me pareceu criada especialmente para o filme (acabo de achar na web que é isso mesmo. A Banda 'criou vida' depois do filme). Até o merchandising, que sempre aparece nos filmes brasileiros, nesse é “estranho” e inteligentemente inserido. Não vou falar muito sobre ele pra não perder a graça, mas adianto que é da Pepsi Twist.

Pegue um filme com super orçamento, tipo a la Hollywood. Tire grande parte do dinheiro, fique com imagem e som sujos. Recrute ótimos atores – não necessariamente famosos, uma história razoável e um roteiro bem pensado. Pra finalizar, adicione 1% de inspiração e 99% de transpiração em todas as instâncias da equipe. Você tem A máquina. E A máquina emociona e diverte.

Daqui a pouco eu volto.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

já tinha lido esse pot esses dias. legal essa promoção do cinema também..
e clap! clap! pro senhor. continue ouvindo arctic monkeys!

abril 04, 2006 11:02 AM  
Blogger Rafael said...

Valeu, Carolina!
Caso não tenhas visto ainda, acho que vais gostar de ver esse filme, pela cenografia principalmente.

Continue "ficando à vontade" pra ler e comentar aqui! Beijos!!!

abril 04, 2006 11:25 AM  
Anonymous Anônimo said...

E aí Jerê, queria dizer que tu estás ficando craque neste negócio de comentar filme, muito boa a tua crítica em relação à Máquina (desta forma em breve estarás escrevendo para algum jornal). Eu vi uns 2 dias depois o filme e também o achei excelente, com destaque, a meu ver, principalmente para o texto e também para o Paulo Autran (sua narrativa se destaca no filme). O texto é muito bonito, cheio de poesia e melodia, aliado a uma cenografia bem criativa. Quanto a isto, eu o achei um pouco parecido com aquele seriado da Globo: "Hoje é dia de Maria". Sem dúvida, é um filme que vale a pena curtir... abração.

abril 05, 2006 11:22 AM  
Blogger Rafael said...

Grande pequeno Toto!!!

Valeu pelas palavras gentis... eu gosto de comentar filmes mesmo, ainda que me falte o "olhar técnico-profissional"... Hehehe... Quem sabe um dia um jornaleco funfeca me contrata??? [:P]

Também concordo com a tua comparação com "Hoje é dia de Maria". O filme parece bastante com a série.

Bueno, thanks pelo comentário! Volte sempre! Abração!!!

abril 05, 2006 11:32 AM  

Postar um comentário

<< Home