
Hoje eu e a Lu fomos ver
Crash. É, Negão, achei tempo pra mais um (vide comentário do Eurico no post anterior)... Há tempos queria assistir esse filme, principalmente porque ganhou o Oscar de melhor filme nesse ano. A Lu se deu conta que já tinha visto o filme nos EUA assim que começou a sessão, mas disse ela que curtiu mesmo assim... Hehehe... Bom, embora não me considere especialista em cinema mas sim apenas mais um curioso, me arrisco a dizer que sinto que a
Academia tem salvação. É o segundo ano consecutivo que uma obra que não é uma super produção ganha essa estatueta (ano passado foi
Million Dollar Baby – Menina de Ouro. Ah, coincidência ou não, o roteirista é o mesmo: Paul Haggis). Ainda que guarde algumas lembranças de
Magnolia – a não-linearidade da história e a neve no final, que remete à chuva de sapos – e tenha alguns poucos pontos previsíveis,
Crash é bom. Bem bom.
Crash é sensível, sutil e ao mesmo tempo direto e expressivo. O roteiro te leva pela mão, como quando o pai da gente nos levava pra um passeio com destino incerto, mas com certeza divertido. A música é uma dica importante pra se deixar envolver pelas cenas.

Vendo
Crash, aconteceu um troço que há tempos não ocorria comigo: chorei. Duas vezes. Chorei emocionado com a beleza do filme e com a cutucada em vários sentimentos humanos, como raiva, compaixão, amor fraterno, paterno e materno, (in)justiça, redenção. Palmas ao Paul Haggis, que conseguiu fazer isso com maestria. No entanto,
Crash é mais do que duas cenas de emoção, e o que fica martelando o tempo todo na cabeça (pelo menos ficou na minha) é a questão de vivermos “no limite” e as implicações dessa realidade. Em algum momento da vida (vários, eu diria), nos encontramos em um turbilhão de fatos e emoções e precisamos tomar
A DECISÃO em segundos. O que nos leva à decisão certa? O que determina quando pendemos para uma atitude justa ou injusta? Como damos vazão a nossas frustrações, dores e raiva? Como ser justo e correto todo o tempo? Isso é possível? E quando não é possível, o que fazer? Como lidar com o peso da culpa, seja nossa ou dos outros?
Em suma, me tocou o fato de o filme reproduzir uma das formas como vejo o mundo.
Sempre é possível mudar, ou quase sempre, pra não soar definitivo. Entretanto, geralmente quando alguém diz isso, a coisa tem um tom positivo e otimista. Ainda que eu seja um otimista, vejo a frase por um prisma também realista. Ou seja, sempre é possível mudar – pra
MELHOR ou
PIOR. E me parece que o que determina isso é a educação que recebemos, que está enraizada. Não é necessariamente aquela recebida no colégio, mas aquela que contém
os princípios,
os valores, coisas que na maioria das vezes nos são dadas pela família e/ou na infância. São esses princípios e valores que vão determinar as decisões instantâneas sobre as quais falei antes.
Isso se une ao fato de o filme ter personagens que fazem parte da minha vida todo o tempo. Da vida de todos, eu diria. O cara que se acha o alvo da conspiração do mundo, o outro cheio de princípios nobres mas que paga pela aparência, a pessoa que usa o poder pra dar vazão às suas frustrações, a mulher constantemente irritada e inflexível, que quer que o mundo seja como ela acha correto, o cara que tenta ser justo sempre, enfim, pessoas que passam a toda hora na frente da minha casa e da sua, e que podem ter suas vidas entrelaçadas num piscar de olhos. Pra todas elas, no filme ou fora dele, é possível mudar, no amplo sentido do termo, dependendo unicamente da nossa capacidade de análise e decisão em cada momento. Não estou dizendo que isso é fácil, mas possível sim.
Outro aspecto interessante do filme aparece logo de saída, na narração do personagem de Don Cheadle, o policial Graham. É sobre a distância entre as pessoas em cidades grandes. Reproduzo o trecho original aqui, em inglês, mas não vou discuti-lo. Quem quiser tocar o barco,
mi casa, su casa:
It's the sense of touch. In any real city, you walk, you know? You brush past people, people bump into you. In L.A., nobody touches you. We're always behind this metal and glass. I think we miss that touch so much, that we crash into each other, just so we can feel something.Bueno, acho que tá claro que recomendo a obra. Ia ser legal ver algumas outras opiniões por aqui... acabo de lembrar que a Lencia postou algo no
blog dela sobre o filme, mas não cheguei a ler, vou ver depois. Espero que não seja a mesma coisa que pus aqui. Nas imagens do post, o cartaz e um take do filme. Os dois mostram as cenas que o cara aqui chorou... [:P] Daqui a pouco eu volto.