holy moments of a waking life

14 agosto 2006

Pensando sobre (e a partir d)o PCC na Globo

Bueno, em função do trabalho e da visita ao pai nesse último final de semana, só ouvi "por alto" sobre a história do seqüestro do repórter da Globo. Aí, reorganizando o início da semana, bati com uma notícia na web que me lembrou o fato e resolvi ir atrás do tal vídeo que os caras pediram que a Globo passasse, em troca da vida do trabalhador.

Não vou defender o seqüestro (é óbvio!), mas vou tentar fazer algumas considerações "isentas" sobre o caso (ou da forma mais isenta possível).

Primeiro, pelo teor lingüístico do texto, ainda que haja alguns erros, fica claro que há pessoas com conhecimento jurídico ao lado deles. O cidadão da gravação mal podia ler o texto que não escreveu.

Segundo: me chamem de desinformado, mas até agora nunca tinha olhado para o PCC como uma instituição política (como o MST, por exemplo). Agora eu vejo. Os caras se organizaram não somente de forma tática, mas também de forma política, me parece.

Terceiro, tentando pensar a situação de forma isenta, não consigo deixar de ver que algumas reivindicações (ou argumentos) dos caras são, até certo ponto, justas. Há tempos sabemos que os presídios não reabilitam ninguém, bem como há bandos de apenados que já cumpriram seus fardos e continuam inexplicavelmente reclusos, apesar da superlotação ser motivo mais do que suficiente pra expelir de lá esses caras que já pagaram sua dívida social.

Quarto, e ligado ao terceiro e segundo ponto, é visível que há a manipulação de meia-dúzia de "cabeças" sobre uma população carcerária revoltada e sem instrução e discernimento. Os caras usam argumentos justos (vide terceiro ponto) e comandam uma massa em prol de seus objetivos tático-políticos (vide segundo ponto). Qualquer semelhança com o MST NÃO É mera coincidência (afinal, quem não acha justo que todos tenham um pedaço de terra pra plantar?). Pensei em fazer uma comparação com o joguete que os políticos fazem com a população humilde e com pouco estudo e muita fé, mas achei que seria pegar pesado demais (será?).

Quinto: será que a TV Globo passaria esse vídeo se o Tim Lopes não tivesse sido executado há uns anos atrás?

Tá, mas não precisa "comprar" o que escrevi aqui. Olha o vídeo e pensa por ti mesmo.



Enfim, essa situação me deixa com algumas perguntas: qual a solução pra essa condição? Já estamos em guerra civil? Acho que sim. De que lado devemos ficar? Ou melhor, devemos ficar em algum lado ou constituir um terceiro posto? É claro que não podemos apoiar esses marginais, mas o Estado (e que fique claro - o Estado, instituição permanente, e não o governo, insituição temporária) também não parece merecer muito crédito. Tenho visto policiais sendo aniquilados a serviço do deserviço do Estado. Creio que policiais, criminosos e cidadãos de bem não passam de vítimas de um poder maior, o que não quer dizer que o certo é sair matando todo mundo, seja de que lado estiverem.

Bah, sei lá. A coisa tá feia. E pode piorar. Pra quem quiser pensar mais sobre o caso, recomendo o aclamado "Cidade de Deus" e o premiado documentário "Ônibus 174". Outro que parece ser recomendável, mas que ainda não vi, é "Falcão - os meninos do tráfico". Filmes indispensáveis pra entender melhor o que está ocorrendo hoje e porque.

Daqui a pouco eu volto.

5 Comments:

Blogger Fonseca said...

Daqui a pouco eles estarão com deputados, etc., deles. Pode escrever. E não falta muito pra isso acontecer.

agosto 14, 2006 10:30 PM  
Blogger Rafael said...

E será que já não têm???

agosto 14, 2006 11:15 PM  
Blogger Fonseca said...

Pois é!

agosto 15, 2006 5:53 PM  
Anonymous Anônimo said...

Fala Henry,

Em primeiro lugar acho que tu devias mandar este teu texto pra algum lugar onde ele pudesse ser lido por mais gente. Tá ducaralho.

Em segundo lugar, complemento (se me permites) tuas recomendações com o livro "Abusado" do Caco Barcelos (ele é tendencioso, mas bastante esclarecedor).

E por último, eu não separaria traficantes e políticos pilantras. Ambos tem como objetivo poder e interesses próprios. Uns andam de gravata e desviam milhões que deveriam ser destinados a quem os gera (os milhões eu digo). Pago imposto, e pesado diga-se de passagem, pra andar com medo da violência contra meus familiares, isso me deixa puto.

E por outro lado, os traficantes (como nos contou o Juliano) agora têm fábricas de órgãos para tráfico. Os caras usam meninas de 16 a 20 anos que "são engravidadas" para gerarem filhos, ou melhor, órgãos para financiar a guerra do tráfico.

Ou seja, jogam todos no mesmo time. Mondo cane...

Abraço.

agosto 16, 2006 3:57 PM  
Blogger Rafael said...

Uala, Nego!

Valeu pela visita e pela dica. Eu queria lembrar o nome desse livro e do autor, mas não vieram à minha cabeça. Agora já tá recomendado.

Sobre a qualidade do texto, agradeço a apreciação, mas não acho que esteja tão bom, nem que tenha sido o único a pensar dessa forma. Ou melhor, espero não ser o único a ter escrito algo assim. E a tua complementação fecha bem com a idéia geral, parece que tá tudo virado e, quando a gente percebe, a se vê que vive-se com medo.

Não lembro dessa história dos órgãos, nem do Juliano (é o Toto???), mas é igualmente assustadora...

Bueno, abração!!! Té mais!!!

agosto 16, 2006 4:12 PM  

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